A gravidez é um processo que envolve muitas mudanças no corpo da mulher. Durante os nove meses de gestação, as hormonas alteram-se e o organismo adapta-se para o desenvolvimento do feto.

Estas mudanças ocorrem também no cérebro. Mas que alterações são estas? E que impacto têm na mulher? É mesmo verdade que a massa cinzenta pode diminuir de tamanho durante a gravidez?

Cérebro da mulher diminui em tamanho e volume durante a gravidez?

Existem alguns estudos que mostram que o cérebro da mulher, de facto, diminui durante a gravidez, mas não há evidências de que essa alteração diminua as capacidades cognitivas da mulher.

Em declarações ao Viral, Rui Araújo, neurologista no Centro Hospitalar de São João e vice-presidente da Sociedade Portuguesa de Neurologia, confirma a existência de “uma alteração do tamanho e volume do cérebro durante a gravidez que se pode manter depois do parto”. 

“Na gravidez, existem questões hormonais e fenómenos no corpo todo, o cérebro não é diferente. O corpo prepara-se para a gestação de um novo ser e adapta-se a este novo estado”, explica o neurologista.

Rui Araújo sublinha, contudo, que “a perda de volume cerebral não significa perda de função, nem quer dizer que o cérebro da grávida fica diminuído face aos outros”. Aliás, o médico assinala que as áreas cerebrais normalmente alteradas estão ligadas a emoções de afetividade ao bebé.

Um estudo sobre a alteração do tamanho do cérebro durante a gravidez, publicado na revista científica American Journal of Neuroradiology em 2002, já concluía que “o cérebro diminui em tamanho durante a gravidez e aumenta em tamanho depois do parto”.

Também em 2017, um estudo que analisou o impacto da gravidez na estrutura do cérebro concluiu que “a gravidez provoca mudanças substanciais na estrutura cerebral, principalmente na redução da massa cinzenta”. 

Os autores deste trabalho destacam um fator “interessante”: “As reduções de volume mostram uma sobreposição substancial com as regiões cerebrais que respondem aos bebés nas mulheres em pós-parto”, tendo impacto no desenvolvimento da “ligação maternal”.

Em 2019, uma revisão sobre as alterações cognitivas nos cérebros das grávidas afirmava que os efeitos do chamado “cérebro de grávida” são “provavelmente pequenos e o impacto na vida diária é discutível”. No entanto, os autores sublinhavam que existe um “consenso entre investigadores de que a gravidez confere um défice na memória comprando com não-grávidas”.

O vice-presidente da Sociedade Portuguesa de Neurologia lembra ainda que a gravidez é uma “altura de grande stress para a parte física e mental do corpo”, uma vez que, durante o processo, a mulher atravessa “noites mal dormidas, dores, desconforto, havendo também uma maior atenção aos estímulos do próprio corpo e uma restruturação do que são as prioridades da grávida”.

Em 2021, um outro estudo verificou que a diminuição do volume cerebral, que decorre durante a gravidez, se mantém seis anos após o parto. 

Para tal, os investigadores realizaram medições em 22 mulheres antes da conceção, um mês depois do parto e, novamente, seis anos após o parto. 

“Descobrimos que a maior parte da redução de massa cinzenta induzida pela gravidez persiste seis anos após o parto”, concluem os investigadores.

Apesar de haver alguns estudos em que se analisa a alteração do tamanho do cérebro, é importante destacar que são ainda poucos os artigos sobre o assunto e, por isso, as evidências não são robustas. É necessário continuar a estudar este fenómeno para perceber as verdadeiras implicações desta diminuição do volume do cérebro durante a gravidez.

Em suma, é verdade que o cérebro das mulheres pode diminuir em tamanho e volume durante a gravidez, mas isso não significa que as suas funções fiquem comprometidas.